domingo, 15 de junho de 2014

Construção de um Observatório Astronômico Compacto - Parte 1



À medida que adquirimos experiência com o telescópio nos tornamos mais exigentes e mais seletivos com a forma na qual aplicamos o nosso tempo. A montagem, geralmente, deixa de ser aquela azimutal básica, para se tornar uma equatorial; o acompanhamento dos astros deixa de ser feito manualmente para ser motorizado; aquela luneta carregada de aberrações óticas é substituída por outro telescópio de melhor qualidade ótica; passamos a documentar as observações, a fazer imagens e até mesmo pesquisas científicas.

No meu caso em específico, após alguns anos observando o firmamento, passei a registrá-lo também em imagens feitas com uma câmera digital semi-profissional acoplada ao telescópio. Para isso necessito de uma montagem equatorial alinhada com o eixo de rotação da Terra que me permita realizar fotos de longa exposição sem rastros e borrões. Quanto maior a precisão que eu obtiver com o acompanhamento sideral, mais fácil será obter fotos de melhor qualidade.

Para obtermos mais precisão no acompanhamento sideral é necessário refinar o alinhamento entre o eixo polar da montagem equatorial e o eixo de rotação da Terra (linha norte-sul geográfica). O alinhamento preciso exige mais tempo para ser atingido, pois utilizamos o Método da Deriva que calibra os ajustes através de mínimos deslocamentos observados num dado período de tempo. Em média, para um processo com o mínimo de aceitabilidade, eu necessito de duas horas para montar e alinhar o meu telescópio e assim deixá-lo pronto para a sessão de astrofotografia.

Uma maneira de poupar este tempo é deixar o telescópio em uma estação fixa alinhado permanentemente com o pólo sul celeste, para isso faz-se necessário uma estrutura que proteja o equipamento das intempéries naturais (sol, chuva, poeira, ventos). Tal estrutura se materializa na forma de um pequeno observatório astronômico que acomodará o telescópio e permitirá a abertura total ou parcial do teto da instalação.

O primeiro passo para a construção do observatório é o píer (pilar) sobre o qual o telescópio será instalado de forma definitiva. Há quem possua o observatório e que mantenha o telescópio em seu interior sobre o mesmo tripé fornecido no ato da compra, porém, eu, particularmente, defendo a construção de um píer porque ele se apresenta muito mais estável do que os tripés mais comuns fornecidos pelo mercado e ocupam uma área muito menor no interior do observatório, além disso, ele facilita muito a vida de quem vive em regiões de baixas latitudes (<20°) pois não possuem o incômodo do eixo de DEC esbarrando em uma das pernas do tripé.

Inicialmente devemos selecionar o local onde será construído o píer, de preferência que tenha o pólo sul celeste acessível e uma boa área de visibilidade da abóboda celeste. Recomendo que se faça uma pequena sapata de concreto em volta do píer para garantir maior estabilidade também (sou bem detalhista sim), desta forma, selecionei uma área de 0,5 mt quadrado que receberá o píer no centro. 
Área de 0,5 mt quadrado marcada para iniciar os trabalhos.
O próximo passo é furar o solo no centro da área selecionada, no meu caso que uso telescópio refrator cujo foco é feito na parte posterior do tubo, necessito que o píer seja mais alto sendo 1,00 mt de altura e 0,80 mt de profundidade.

Retirada do gramado.

Cavidade com 0,80 mt de profundidade sendo conferida pela minha assistente.
Molde para a sapata de concreto.

Cano PVC de 150mm com 1,80mt de comprimento e armação de ferro (treliça) com o mesmo comprimento.

O uso de um prumo é altamente recomendável para conferir o alinhamento do píer garantindo a sua perpendicularidade.

Gabarito de madeira com 3 barras roscadas (0,5" e 0,50 mt de comprimento) com chumbadores em uma das extremidades.

O gabarito posiciona as barras a 120°.

Estrutura sendo montada e preparada para receber o concreto.

Espaçadores para manter o tubo no local correto.

Interface em tecnil feita especificamente para o cabeçote da montagem EQ5.

Após dois dias curando, retirei o molde de madeira.
A montagem ficou perfeitamente acoplada ao píer.

Píer concluído e perfeitamente estável. O próximo passo será a construção da casinha móvel para abrigar o telescópio.

A segunda e última parte será publicada na próxima semana.

Abraços!